- Sophia Eugênia Vieira
- 24 de out. de 2023

Este post encerra a série em que elenquei alguns dos principais ganhos de um processo psicoterapêutico #terapiaporquê
Não foi proposital tê-la deixado por último, mas, agora, pensando bem, sinto que a reconciliação com a própria história de vida remete a uma despedida, uma condensação, um luto. Luto pelo que foi idealizado e não realizado, luto pelo que não pôde ser vivido, pelas faltas e pelos excessos, principalmente estes.
Também remete ao respeito próprio, respeito pelas escolhas que foram possíveis, por versões anteriores de si mesmo, mais imaturas. E, neste ponto, podemos incluir humor. Reconciliar-se consigo mesmo nos permite passear mais livremente pelas memórias e rir de si mesmo de vez em quando.
Adiei, desde que retomei minha vida de servidora pública, escrever sobre este tema, mas há uma semana estive com minha família de origem, pais, irmãos, tios, primos..., além dos familiares do meu marido.
Encontros como este, infelizmente, andam raros e, por isso, são sempre intensos em afeto e especiais por motivos diversos. São oportunidades para reencontros, reedições, atualizações e aceitação. Para realizarmos que a vida acontece, se a gente não resistir muito, e que muito ainda pode ser feito em algumas circunstâncias, mas que nada mais pode ser feito em outras. Realocar posições e territórios, resgatar o que nos pertence, devolver o que não.
Mas nada disso será possível sem antes nos responsabilizarmos, sem tomarmos no colo nossas dores, sem sangrar nossas feridas, sem ler, reler e narrar os rascunhos das nossas confusões. Neste sentido, a terapia se coloca como espaço de apoio para pensar pensamentos que não puderam ser pensados, para sentir emoções que não puderam ser sentidas. Para integrá-los, como quem tece e costura.
Pode levar tempo. Para que alguns fios se entrelacem, outros precisam ser criados. Tecer-se é sofisticadíssimo, mas é artesanal.