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  • Sophia Eugênia Vieira
  • 1 de ago. de 2023

Como psicóloga, fui convidada a falar para um grupo de mulheres de uma comunidade em Brasília. O convite foi feito por uma assistente social que não tinha de antemão um tema específico para esta conversa. Contudo, alguns assuntos foram cogitados e, a princípio, decidimos que aquela palestra seria sobre “Esperança”.

A partir dali, ainda antes do encontro, passei os próximos dias pensando no relato da assistente social sobre a precária realidade das mulheres daquela comunidade. Esperança seria o tema mais adequado? Geraria alguma reflexão que fizesse valer o encontro em si? Sobre o que essas mulheres gostariam ou necessitavam ouvir?

Suspeito que, no fundo, a escolha do tema tenha projetado diretamente os desejos meus e da assistente social de levar a própria Esperança àquelas mulheres.

Bem, vencida a fantasia de onipotência, alcancei que o melhor que poderia oferecer naquele momento seria, não minha fala, mas minha escuta e acolhimento, a oportunidade àquelas mulheres de ouvirem a si mesmas e se sentirem um pouco mais compreendidas. A fala era delas, deveria ser delas.


A escuta psicanalítica dá contorno, faz borda, delineia e dá corpo. Faz margem enquanto rastreia o marginal. Porque, flutuante, sonda os desencontros, os excessos, as incongruências. Ela escuta para além do dito, escuta o “dizer", a dimensão inconsciente da linguagem, o processo pelo qual a linguagem é usada para expressar algo. Ela perscruta e dá relevo aos aspectos simbólicos, afetivos e inconscientes que permeiam a comunicação.

Para Debussy, a música é o espaço entre as notas. Na Psicanálise também é, mais ou menos, assim.


A pretensão de uma fala ganhou muitas vozes, e o efeito se propagou em mais dimensões: ouviu-se o individual, o coletivo e a unidade grupal inconsciente que se formou. Eu, particularmente, me encanto muito com os fenômenos grupais, o livre circular da palavra, as associações em cadeia, os reconhecimentos e identificações que vão moldando e evoluindo a identidade do grupo. As emoções são tecidos conectivos, buscam continência e conexão atrás de significados. Trazem em si mesmas o gérmen da cura: a esperança!


Sophia Vieira

Psicóloga Clínica - crp 06/110685


Psicoterapia presencial e on-line

(61)98212-8900

  • Sophia Eugênia Vieira
  • 1 de ago. de 2023

Vivemos numa época marcada por profundas e contínuas transformações. Tais mudanças exigem de nós constantes adaptações ao passo em que também nos propõem novas conexões, ou novas formas de nos conectarmos e estarmos no mundo.

É interessante observar que, de todas as evoluções tecnológicas, as que disparadamente se destacam são as que nos conectam, as que nos põem em comunicação. E é polêmico, por outro lado também sabemos que a internet aproxima os distantes, mas distancia os mais próximos.

Na psicologia clínica, o atendimento on-line já vinha acontecendo mesmo antes da pandemia, mas assim como em muitas outras profissões, ganhou força irrevogável após este período.

Há os que tenham apreciado o formato, os que se sintam mais confortáveis, os mais familiarizados com o ambiente virtual, e há os que prefiram, por diferentes motivos, o atendimento presencial.

Mas, “virtual” é uma palavra curiosa. Ela vem do latim "virtualis" que significa "possível", "potencial" ou "capacidade de existência”, que na atualidade passou a descrever a natureza não física das coisas.

Ora, se não são assim todos os encontros humanos! E se não é da observação desses fenômenos que se faz psicanálise.

Vinícius de Moraes no Samba da Benção diz que “a vida é arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida”. E assim é, somos o “possível” daquilo que criativa e singularmente fizemos das impossibilidades, dos desencontros, das frustrações.

Para se aproximar de tais singularidades humanas, a psicanálise conta, entre outras técnicas, com o enquadre psicanalítico: um conjunto de regras, disposições e combinados que moldam o encontro entre analista e paciente. Ele enquadra como uma moldura que contorna e delimita.

Uma vez estabelecido, cada paciente lida e se “enquadra” de uma determinada maneira.

O modo on-line de realização do trabalho é uma das características que moldam um determinado enquadre. (Uma característica um tanto literal se pensarmos na tela retangular que emoldura faces).

A virtualidade pode ser tão fértil, potente e criativa, como duas poltronas frente a frente ou um divã.

Com sorte teremos limitações. E então, apesar delas e em virtude delas falaremos.


Sophia Vieira

Psicóloga Clínica - crp 06/110685

Psicoterapia presencial e on-line

(61)98212-8900

  • Sophia Eugênia Vieira
  • 31 de mai. de 2023

“Amar é dar o que não se tem a alguém que não o quer” é uma frase de Lacan que, além dessa, coleciona inúmeras outras frases polêmicas como “a mulher não existe”, por exemplo.

A estátua que se move é da artista Tamara Kvesitadze e foi instalada na Georgia em 2010. No perfil da autora, encontrei a descrição da escultura como um trabalho que fala de relações humanas em seus encontros e desencontros, prazeres e sofrimentos. Também sobre ciclos, conexões e desconexões do amor.

Pra mim ela “toca” nos vazios. Nos substanciais vazios de cada um: imprescindíveis para que haja encontros e haja desejo.

“Amar é dar o que não se tem”, mas é preciso “ter” algum vazio para amar. Do contrário, ensimesmados, padeceremos de excessos.

Psicologia Online por Sophia Eugênia Vieira

Contato: (61) 98212-8900

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