Sobre a virtualidade
- Sophia Eugênia Vieira
- 1 de ago. de 2023
- 2 min de leitura

Vivemos numa época marcada por profundas e contínuas transformações. Tais mudanças exigem de nós constantes adaptações ao passo em que também nos propõem novas conexões, ou novas formas de nos conectarmos e estarmos no mundo.
É interessante observar que, de todas as evoluções tecnológicas, as que disparadamente se destacam são as que nos conectam, as que nos põem em comunicação. E é polêmico, por outro lado também sabemos que a internet aproxima os distantes, mas distancia os mais próximos.
Na psicologia clínica, o atendimento on-line já vinha acontecendo mesmo antes da pandemia, mas assim como em muitas outras profissões, ganhou força irrevogável após este período.
Há os que tenham apreciado o formato, os que se sintam mais confortáveis, os mais familiarizados com o ambiente virtual, e há os que prefiram, por diferentes motivos, o atendimento presencial.
Mas, “virtual” é uma palavra curiosa. Ela vem do latim "virtualis" que significa "possível", "potencial" ou "capacidade de existência”, que na atualidade passou a descrever a natureza não física das coisas.
Ora, se não são assim todos os encontros humanos! E se não é da observação desses fenômenos que se faz psicanálise.
Vinícius de Moraes no Samba da Benção diz que “a vida é arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida”. E assim é, somos o “possível” daquilo que criativa e singularmente fizemos das impossibilidades, dos desencontros, das frustrações.
Para se aproximar de tais singularidades humanas, a psicanálise conta, entre outras técnicas, com o enquadre psicanalítico: um conjunto de regras, disposições e combinados que moldam o encontro entre analista e paciente. Ele enquadra como uma moldura que contorna e delimita.
Uma vez estabelecido, cada paciente lida e se “enquadra” de uma determinada maneira.
O modo on-line de realização do trabalho é uma das características que moldam um determinado enquadre. (Uma característica um tanto literal se pensarmos na tela retangular que emoldura faces).
A virtualidade pode ser tão fértil, potente e criativa, como duas poltronas frente a frente ou um divã.
Com sorte teremos limitações. E então, apesar delas e em virtude delas falaremos.
Sophia Vieira
Psicóloga Clínica - crp 06/110685
Psicoterapia presencial e on-line
(61)98212-8900
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