Tolerar e conviver
- Sophia Eugênia Vieira
- 24 de out. de 2023
- 2 min de leitura
Laura ontem: Mãe, do que Deus gosta que a gente faça?
Eu: Ah, filha, acho que Deus fica feliz quando vê que a gente está feliz, que estamos tão alegres que cantamos, dançamos e criamos coisas novas.
Achei que tinha mandado bem na resposta, mas ela me lançou um olhar triunfante e um sorrisinho: Não, mãe, Deus gosta que a gente faça amizade.
Eu tinha acabado de ver a cena de uma menina morta sendo carregada nos braços de seu pai que, entre gritos de revolta naquela língua que eu não entendia, tentava sobrepisar escombros. Eu estava ainda abalada e confusa com a cena que me parou, tentando organizar o inorganizável: o fluxo de sentimentos de uma rolagem de Reels, porque, imediatamente antes, tinha me acabado de rir com um meme engraçado enquanto Olívia e Laura brincavam ao redor, e minha atenção não estava nem lá nem cá, só tentava descansar a cabeça depois do trabalho (sim, a forma menos inteligente de descansar a cabeça depois de um dia agitado).
Mas aquela cena tinha me parado. A menina devia ter entre 6 e 7 anos, a idade das minhas. Para mim, crianças morrendo são o pior símbolo da guerra, da destruição, da impossibilidade do amanhã, da extinção da humanidade, do humano! Mas dizer símbolo é controverso. Porque o simbólico é o oposto do trauma. O trauma é a impossibilidade de simbolizar e pensar. E a guerra está infinitamente mais próxima do trauma do que do fértil.
Laura foi certeira! Deus gosta que a gente faça amizade.
Achei que estava inovando e sugerindo um Deus cool. Mas minha resposta foi a mais tradicional e egoísta possível.
Aprendi com a Laura que Deus não tem tempo de ficar feliz com felicidades individuais, cada um que se vire com a sua. Deus quer que a gente tolere, conviva, comungue! E, na medida do possível seja feliz sim, junto!
Crianças não são o futuro, elas são (o) agora!
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